Diário do Sul, 09 de Abril de 2008
IMPORTANTE ESTUDO EDITADO EM LIVRO
A
ETERNA QUESTÃO DE OLIVENÇA/AS AMBIGUIDADES POLÍTICAS E DIPLOMÁTICAS
António
Luiz Rafael
(gravura com a capa do livro)
(no final, notas sobre algumas
declarações feitas no artigo, à margem do mesmo)
Ana Paula Fitas,
professora universitária, e natural de Évora, acaba de dar à estampa o volume
intitulado "Olivença e Juromenha - Uma História por Contar". Trata-se de um
texto que serviu de tese para o doutoramento da autora, e sumariado "para uma
mais fácil leitura", a partir de um original totalizando mil e duzentas
páginas.
Para levar a cabo este trabalho, Ana Paula Fitas assentou
arraiais nas localidades a estudar para assim estar confrontada "ao vivo" com a
história (e histórias), sentimentos, lembranças, marcas do passado e realidades
actuais. E assim nos é aberta a porta deste livro, seguindo-se o percurso
iniciado em 1164, quando D. Afonso Henriques, pela primeira vez, toma a região
de Olivença (que assim passa a ser domínio português), seguindo-se depois os
diversos episódios históricos decorridos até ao ano de 1801, quando, na
sequência da chamada "Guerra das Laranjas", aquela parte do território ( e após
a assinatura do Tratado de Badajoz ) transitou para a posse de Espanha.
Ana Paula Fitas praticou uma pesquisa minuciosa, algo a justificar totalmente a
frase final do título: uma história por contar, pois na verdade ali são
interpretadas relevantes situações que nos levam a um melhor entendimento desta
"Eterna Questão". Juromenha ( a irmã de Olivença, mas na margem oposta do
Guadiana ) é igualmente analisada, estabelecendo-se assim a correlação das duas
Praças, e o seu protagonismo ao longo dos séculos. Indiscutivelmente um livro a
não perder.
Em Évora o lançamento desta obra aconteceu na Livraria D.
Pepe, onde diversas personalidades usaram da palavra no decorrer da sessão,
primeiramente Fernando Mão de Ferro da Editorial Colibri, e depois a Dr.ª Lina
Jan, responsável na CCDR/Alentejo pela Cooperação Transfronteiriça; o jurista
António Teixeira Marques, Presidente do Grupo doa Amigos de Olivença, e o
Professor Moisés Espírito Santo, Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas.
Este último convidado (1)desenvolveu, numa lúcida explanação, o
seu pensamento relativamente à questão/Olivença, analisando o aspecto político e
jurídico, e afirmando em determinado momento que "Olivença politicamente é
espanhola, mas culturalmente é portuguesa". Aparentemente não pareceu muito
convicto de um dia se verificar o "regresso" de Olivença à posse portuguesa.
Acha antes mais plausível fomentar a fraternidade popular transfronteiriça com a
responsabilidade partilhada e independente dos Estados, e isto "porque às vezes
os "factos" sobrepõem-se mais que o Direito"(2).
O Professor Moisés
Espírito Santo Santo alvitrou mesmo (a exemplo de Vilar de Mouros ou Zambujeira
do Mar)...porque não promover um Festival naquela zona fronteiriça de modo a que
os jovens oliventinos e os alentejanos pudessem confraternizar(3)?
Finalmente, a Professora Ana Paula Fitas a gradeceu a presença de tantas pessoas
naquele espaço livreiro, e fez votos para que o seu livro contribua para um
melhor conhecimento do tema, e sirva igualmente como mola dinamizadora nas
regiões da raia, eliminando uma parte da monotonia existente. À pendência
histórica limitou-se a afirmar que se foi diluindo um pouco graças ao bom
relacionamento das autarquias de ambos os lados do rio. E acrescentou:"a
situação manteve-se ao longo dos séculos, sobretudo devido às ambiguidades
políticas e diplomáticas do nosso país".
Deste modo se encerrou este acto
de apresentação de novo lançamento de uma obra literária, seguindo-se depois a
habitual sessão de autógrafos.
Assim, ae a bom ritmo, Évora vai recebendo
a visita de vários autores, o que é extremamente benéfico para um melhor
conhecimento dos seus trabalhos e bem assim quanto ao pensamento de quem os
escreve.
ANTÓNIO LUIZ RAFAEL
FIM
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NOTAS
( DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DE CARLOS LUNA)
(1)Provavelmente por falta de
espaço, o jornal não se refere aos tópicos desenvolvidos pelo Jurista Teixeira
Marques sobre os aspectos jurídicos da "Questão". Uma pena, pois a notícia fica
muito pouco imparcial!
(2) O Professor Moisés Espírito Santo desenvolve aqui
uma idéia aparentemente generosa, mas muito perigosa! Se as situações "de
facto", em Direito Internacional, fossem aceitáveis, teríamos várias agressões
de estados poderosos a territórios de estados vizinha mais fracos, ou a estados
inteiros, que, após algum tempo, porque eram situações "de facto", se tornariam
"legais". Imagine-se o Inferno! Ou imagine-se o que teria sido este princípio
aplicado a Timor. Ou, já agora, pergunte-se o que leva Madrid a não encarar esta
hipótese sobre Gibraltar, ou a Argentina sobre as Malvinas... A idéia é, pois,
um contra-senso...
(3) Mais uma vez, por detrás de uma idéia generosa de
fraternidade, verifica-se uma falácia! NÂO HÀ SITUAÇÔES DE DISPUTA TERRITORIAL
EM Vilar de Mouros ou Zambujeira do Mar. A proposta do Prof. Moisés Espírito
Santo corresponde a propor a Madrid que celebre a Amizade Hispano-britânica em
...Gibraltar... continuando este território sob administração britânica.
Imagine-se a resposta de Madrid a uma tal proposta. Parece também que o
Professor desconhece o absoluto branqueamento ( e falsificação) da História que
prossegue em Olivença. Em 9 de Abril de 2008, no maior super-mercado de
Olivença, três jovens funcionários oliventinos insistiram, uma e outra vez, que
Olivença fora trocada por Campo Maior Na Guerra das Laranjas. Perante um livro
de História (ESPANHOL) onde tal era desmentido (um dos poucos que o faz),
replicaram que "o livro estava errado", porque "toda a gente em Olivença sabia
que assim [a troca] fora, e não havia mais conversa!" Perante este "quadro",
como é possív
el sustentar "encontros culturais apolíticos"?