Desde criança, o meu imaginário gira em torno de um reino em que o povo vive feliz, onde nada falta e o respeito uns pelos outros é de tal maneira instituído na nossa formação que nunca o povo achou necessário colocar esse facto por escrito.
Quando cheguei à pré-adolescência e comecei a estudar a História de Portugal, apresentaram-me um D.Miguel usurpador, tirano, sanguinário, fratricida e sei lá mais o quê...como qualquer estudante que se preze, tratei de despachar a função e conseguir o licenciamento o mais depressinha possível...as vicissitudes da vida porém, não me permitiram continuar os meus estudos académicos, mas fiz nessa altura a promessa de nunca esquecer que se um dia pudesse, lutaria por dignificar aquele que na minha opinião teria impedido a Republica sem ter inviabilizado a Res Publica...
Não vou dar-me ao trabalho de mostrar o óbvio, nem vou sequer alongar-me na "esperteza saloia" de D.João VI tentar continuar com o reino de Portugal e Brasil. Não vou explorar o facto de que a independência do Brasil estava tão iminente que D.João VI acautelou o seu governo, fazendo redigir um rascunho da constituição brasileira onde acautelava o lugar de seu filho primogénito, tanto como governante numa, como na outra futura nação independente. À lusa moda dos caçadores, 2 coelhinhos numa cajadada só...
Só que no meio desta tramoia toda, existia um rapazinho, para quem a tradição ainda era o que era e que em Dezembro fazia frio e chovia, a canção nacional era o fado e não o samba, as touradas eram o ópio do povo e as putas de alfama eram genuínas damas de prazer em deterimento das madamas de além-mar...perdoem-me, mas só na última semana, li 6445 cartas particulares dos anos de 1819 a 1837, de várias facções políticas e uma coisa é certa, neste ponto, todas concordavam...
Muito de mal se tem dito sobre D.Miguel, mas parece terem esquecido que D.Pedro de Alcântara redigiu uma "Carta" em que Sua Magestade se quiser, manda p´ro beleléu tudo o que não esteja de acordo com "Sua Magestade"...também não me vou dar ao trabalho...vão lá ver, que foi o mesmo que eu fiz...procurei!
Não esquecendo que metade da política do Sr. D.Miguel acautelava já uma possivel insurreição Republicana, reservo-me o direito de pensar que se a coisa tivesse sido feita de outra maneira, ainda hoje tínhamos um Monarca a zelar pelos nossos direitos e deveres. Pela justeza do seu caracter, não teria sido necessária a instauração da Republica, que mais não é a meu ver que a legitimação dos ideiais de Sua alteza Real o Sr.D.Miguel I, que por força das circunstâncias se deu o nome de REPUBLICA, afinal, aquilo porque ele próprio achou fundamental, assentar o governo na Res Publica, a "causa pública".
Se um dia acabar o meu curso, aquele que escolhi para defender aquele que considero o maior monarca Português, espero ver o nome do Sr. D.Miguel, não como o "usurpador", mas sim como o "Inovador".