Personalismo: Para Além do Capitalismo e do Marxismo
A uma série de correntes filosóficas da contemporaneidade, cujo ponto em comum é a defesa da pessoa entendida como um valor supremo, denomina-se: Personalismo. O seu principal representante é Emmanuel Mounier. Figura de destaque do personalismo italiano é L. Stefanini (1891-1956), directamente entroncado na tradição augustiniana, autor de uma obra intitulada Metafísica da Pessoa. Podem ser considerados personalistas, embora, sendo existencialistas, M. Bondel e Gabriel Marcel, filósofo francês, do qual destaco o seguinte pensamento: “Toda a família realmente viva segrega um certo ritual sem o qual se arrisca a longo prazo a perder o seu convívio secreto”.
Emmanuel Mounier (1905-1950) é uma figura destacada do personalismo cristão europeu que confere ao homem um valor absoluto enquanto pessoa. O personalismo define-se como a atitude filosófica que reconhece a importância da pessoa, que considera a pessoa como princípio oncológico e, portanto, faz dela um princípio fundamental para a explicação da realidade. A ideia central do pensamento personalista caracteriza-se pela pessoa na sua inobjectibilidade (o homem não consiste num simples conjunto de matéria), inviolabilidade, liberdade, criatividade e responsabilidade de pessoa com alma encarnada num corpo, situada na história e constitutivamente comunitária. O personalismo, ao contrário do capitalismo, separa a pessoa das máquinas, pois o sentido da sua existência é muito maior do que a necessidade do trabalho; apesar dessa satisfação e realização no acto laboral ser importantíssima para a pessoa. O personalismo, distanciando-se do marxismo, também separa a pessoa das instituições, pois antes do cidadão fazer parte de um qualquer grupo é uma pessoa na sua personalidade, por isso, a sua mente é única e peculiar, o que impossibilita que o seu querer e as suas ânsias particulares sejam satisfeitas com as vontades impostas por grupos.
O personalismo americano mostra-se em geral vinculado a posições filosóficas idealistas. Nalguns filósofos trata-se de um idealismo absoluto, de tipo hegeliano, em cujo caso seria possível falar de um personalismo absoluto: o princípio último explicativo da realidade é pessoal, mente ou espírito, daí que todo o real não é mais do que manifestação ou determinação (J. Royce, M.W. Carlins). O personalismo europeu não se vincula em absoluto a posições filosóficas idealistas. A sua inspiração última encontra-se na concepção cristã do homem, bem como no valor absoluto que o cristianismo reconhece e confere à pessoa humana.
O personalismo opõe-se a toda a forma de materialismo, pois, este, ao declarar que a matéria constitui o princípio e substrato de todo o real, não deixa lugar para qualquer princípio pessoal. O personalismo defende a irredutabilidade da pessoa à matéria, afirmando-se numa concepção espiritualista do ser humano. A pessoa revela-se não na experiência imediata de uma substância, mas na experiência progressiva de uma vida, a vida pessoal. O personalismo assume a tradição espiritualista cristã face à redução materialista do ser humano à matéria. O personalismo não só afirma a irredutabilidade da pessoa à matéria, como também a irredutabilidade da pessoa ao todo. O personalismo surge em oposição ao intelectualismo, mas não ao idealismo. O personalismo contemporâneo aparece como o último elo de uma cadeia em que se assume e actualiza uma trajectória histórica personalista, aparentemente, vencida na actualidade pelo triunfo do materialismo. A pessoa caracteriza-se pela sua transcendência, face ao enclausuramento do indivíduo dentro de si mesmo, a pessoa encontra-se essencialmente aberta a outras pessoas e, ao ser pessoal supremo.
Quando Mounier escreveu o Manifesto ao Serviço do Personalismo (1936) a Europa estava marcada pelo predomínio de um capitalismo degradante e de um comunismo despersonalizador. O capitalismo proclama a liberdade do indivíduo e o seu direito à propriedade privada, porém não estabelece mecanismos solidários, nem uma ordem sustentada e segura, entre os sujeitos, mas, cada um terá de resolver os seus próprios problemas com as suas próprias forças e com os recursos que possuir. O marxismo, em resposta ao capitalismo, surge como ideologia de grande popularidade no velho mundo subdesenvolvido, oferecendo um enfraquecimento do opressor através da luta de classes para apropriar-se dos meios de produção, usurpando, os seus seguidores, aquilo ao qual não têm direito legítimo. O homem estava subordinado ao totalitarismo materialista, numa tentativa frustrada, para alcançar o paraíso comunista.
Emmanuel Mounier propõe a seguinte definição de pessoa: «Uma pessoa é um ser constituído como tal por uma forma de subsistência e de independência em seu ser; mantém esta subsistência mediante a adesão a uma hierarquia de valores livremente adoptados, assimilados e vividos num compromisso responsável e numa constante conversão; unifica assim toda a sua actividade na liberdade e desenvolve, por acréscimo e, por impulsos de actos criadores, a singularidade da sua vocação».
A pessoa é a própria presença do homem, com pleno direito à realização pessoal, ao qual é exigido o compromisso político, na luta, para que os valores da pessoa sejam reconhecidos e promovidos.
Proclamamos pois: A cada um o seu paraíso, o seu direito à felicidade.
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