Esta entrevista com a data de hoje foi cedido pelo dr. Carlos Luna
(tenho
que eleger o meu amigo Dr. Carlos Luna a meu Secretário ,pela forma
briosa que envia sempre Textos é impressionante e Agradeço Bastante,com
Amizade)
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 19 de Julho de 2007 (Saramago volta a falar !!!)
"Quanto mais velho mais livre e quanto mais livre mais radical"
JOÃO CÉU E SILVA
Entrevista com José Saramago
A Ibéria
As suas declarações criaram um coro de protestos e artigos na imprensa internacional pouco habituais. O que pensa disto?
O
que tinha a dizer sobre esta questão de Portugal e de Espanha está dito
e não tenho mais nada a comentar. Está tudo na entrevista.
Mas o ministro aceitou classificar a sua profecia como um cenário de ficção literária!
Ah, não concorda...
A que se deve que as suas declarações tenham sido mais comentadas por colunistas no estrangeiro do que em Portugal?
Eu
não me quero meter nesse assunto nem comentar as críticas. O que sei
das reacções não é por via directa, chegam-me já com eco e ainda não
sei bem o que é que se disse.
Para quando, então, a Ibéria?
É um assunto para o futuro.
Sente pressões quando fala ou escreve?
Não, exprimo exactamente o que quero e como quero.
Mas tem algum cuidado especial em certo tipo de questões?
Eu
falo exactamente o que quero e vale a pena recordar a história de um
velho professor de Matemática e amigo - eu hoje em dia até sou mais
idoso do que ele era na altura -, que era o Alberto Candeias. Era um
senhor que ia muito à editora onde eu trabalhava e que até fez algumas
traduções para a Editorial Estúdios Cor, onde estive um bom par de
anos. E um dia, estávamos ainda no fascismo, fez-me essa mesma
pergunta: se eu pensava aquilo que escrevia nas crónicas que publicava
no jornal? Eu respondi-lhe exactamente assim: que posso não ter dito
alguma coisa que pensava, mas nunca disse nada que não tivesse pensado.
Vivíamos, então, numa época em que poderia antes ter-lhe respondido que
podia não ter dito o que pensava, porque a censura não mo permitia, ou
coisa do género, mas nunca o fiz nem disse nada que não tivesse
pensado, que não fosse pensado. Evidentemente que a mentira também é
pensada, estou a levar isso em conta, mas nunca disse algo que não
fosse uma convicção minh
a ou pelo menos uma opinião que do meu ponto de vista não estivesse fundamentada.
Radicalismo
Muitas vezes, os portugueses acham-no radical?
Eu
disse há tempos que quanto mais velho mais livre me sinto e quanto mais
livre mais radical sou. Claro que esta questão da idade não se pode
aplicar indiscriminadamente, até porque a velhice é a negação de uma
liberdade, mas, felizmente, no meu caso tenho saúde e a cabeça
funciona. Por isso posso afirmar que de facto quanto mais velho estou
mais livre me sinto e essa liberdade levou-me a expressar-me de uma
maneira radical, com um radicalismo às vezes forte e próprio daquilo
que penso.
E não se arrepende desse radicalismo?
Nunca me arrependi e não me arrependo.
Pensa voltar a viver ainda em Portugal?
Não,
já não penso voltar a viver em Portugal. Virei aqui com todo o gosto,
até porque tenho amigos cá e esta é a minha terra. Os emigrantes também
vivem fora, no fundo, sou um emigrante. Dá vontade de dizer que sou um
refugiado político...
Mas considera-se um refugiado político?
Não.
Sou uma pessoa que mudou de bairro, alguém a quem um vizinho do patamar
de cima incomodava com o muito barulho que fazia e decidiu ir para
outra casa. Poderia ter acontecido de outra forma, houve uma altura em
que andámos (o casal) a tentar encontrar outra casa, sem deixar aquela
perto da Estrela, para estar fora de todo aquele ruído da zona. Então,
estivemos em Mafra e andámos pela região a procurar, mas não
encontrámos nada de jeito e era tudo muito caro. E é quando sucede, uma
vez que já conhecia Lanzarote, que nasce a ideia de fazer uma casa na
ilha para passar as férias. Obviamente, houve uma espécie de trauma na
época que colocou a situação noutros termos e noutro plano. Aqui fui
maltratado e censurado pelo Governo... Eu lembro-me de ter ido a Belém
falar com Mário Soares e dizer-lhe: "Vou-me embora", porque nada tinha
sido corrigido, nem foram pedidas desculpas. E quando achava que tinha
a razão do meu lado ao estar contra a proibição de que o meu livro
fosse lev
ado ao júri europeu, foi algo que não suportei.
A fundação
E agora?
Agora,
viverei o que faltar, aquilo que ainda tenho para viver e que com esta
idade não podem ser muitos anos, mas vou tentar vivê-los bem por várias
razões. Não é viver na farra, mas antes como tenho vivido com a Pilar,
que foi algo que eu não podia esperar que me acontecesse quando tinha
63 anos e ela 36, e continuar com o meu trabalho. Vou pôr-me a escrever
outro livro e ver até onde irei, lá chegará o momento em que, ao sentir
que não terei nada para dizer, saberei que o melhor é calar-me.
Mas ainda tem muito para fazer?
Nos
próximos tempos tenho a fundação, algo que estou a viver com muita gana
e veemência, porque é ao mesmo tempo algo que estou a construir mas de
que ao mesmo tempo me vou despedindo - tenho de o assumir, para que é
que hei-de estar aqui com precauções, que é um tempo que é de
despedida, porque o começa a ser -, no sentido de que a fundação é a
vida, o trabalho da Pilar e das pessoas que irão estar ali. Portanto, é
como se eu quisesse deixar um testemunho mais: está aqui a obra e está
aqui uma coisa a que nós chamamos Fundação José Saramago, que para algo
servirá. Dependerá das pessoas que lá estarão, que já estão convidadas,
fazer daquilo algo que valha a pena e que se note na vida cultural e
também na sociedade.
Quanto à sua biblioteca?
Está em
Lanzarote e é para ficar ali. Se um dia a fundação for extinta, os bens
pertencerão à Biblioteca Nacional de Lisboa, mas a biblioteca será
levada para a Universidade de Granada - que já a está a catalogar -,
onde constituirá um núcleo de literatura que tem a ver com a própria
cátedra.
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